Suave balé
Tenho forte ligação com minhas origens rurais. Em que pese eu adorar minha vida urbana, sinto necessidade de verde à minha volta. Plantar, ver brotar, adubar, regar, colher, para mim são verbos adoráveis de se conjugar.
Ver a natureza no horizonte é algo que busco toda vez que mudo de apartamento, me dei conta disso na penúltima mudança.
A vida no campo é muito rica em observações e experiências. Um mundo de descobertas ao seu alcance: a beleza de uma mina d’água no meio da mata, onde ela brota borbulhando, gelada e límpida; pedras e cristais naquele trecho de erosão no pasto (inacreditavelmente alguns são brancos e outros roxos); a amoreira que em todo setembro fica carregada; o cheiro das verduras frescas na horta; o riacho, com seus peixes e garças; a jabuticabeira, ah o pomar de jabuticabeiras!!!
- Cadê ela? Alguém viu onde está a Janaína?
Adivinhe só...
Desde pequena conheci sítios e fazendas, pequenos canteiros no jardim de casa e grandes plantações a perder de vista: café, soja, milho, feijão, algodão, cana de açúcar, laranja, tomate, banana, mandioca, girassol, capim napier.
Cada lavoura tem sua peculiar beleza.
Mas minha melhor lembrança, aquela que aquece o coração, é de uma plantação de trigo. Num único ano eu vi uma plantação de trigo de perto e tive a oportunidade de caminhar algumas vezes pelas ruas que a cortavam.
Eram caminhadas com objetivos aeróbicos, manter a forma andando numa área de relevo mais desafiador, diferentemente das pistas na cidade. A atividade física exigia manutenção do ritmo, respiração constante, mas às vezes eu perdia completamente o ar!
Sempre que uma rajada de vento soprava o trigal, eu contemplava todas as espigas maduras, douradas, movendo-se em ondas leves, num suave balé. Sentindo o vento em meu rosto, fechava meus olhos e então eu era parte daquela natureza: o ar puro me envolvendo, uma enorme sensação de paz, de pertencimento a algo muito maior.
Desde então, lá se vão duas décadas, tenho profunda consciência do bem que o contato com a natureza me faz e busco manter este contato em todo as oportunidades que tenho.
E você? Que lugar te faz sentir integrado ao universo? Onde você encontra paz quando precisa?