Buscar
Camuflado
- Janaína Corrêa
- 4 de fev. de 2018
- 2 min de leitura
A pintura camuflada já diz muito. Ele é grande, bastante pesado e resistente. Tem esteiras ao invés de rodas. Quem não se impressiona diante de um tanque de guerra?
Tenho um filho de 4 anos, louco por todo tipo de veículo: carros, caminhões, trens, aviões, foguetes, motocicletas, tratores, naves espaciais. Desde o berço ele convive com retroescavadeiras, carrinhos, barcos e aviões no enxoval, nas roupas, móbiles, mordedores.
Quando estamos em nosso automóvel ruas ou estradas à fora, Lucas brinca de imaginariamente capturar os carros e os destina: os caminhões são dele, os ônibus são para mim, as motocicletas vão para meu marido, carros vermelhos são lançados ao ar para chegarem até a cidade da vovó, os brancos vão para a tia.
Uma de suas brincadeiras favoritas é enfileirar dezenas de carrinhos criando sua cidade, com ruas, estacionamentos, supermercados e shoppings de onde os carros chegam e saem o tempo todo.
Então, assim que vi o tanque de guerra pensei: um mega veículo, Lucas vai gostar!
Sem nem pensar, mostrei logo para meu marido o tanque enquanto chegávamos num posto de gasolina. Cabe ressaltar que aqui no interior de São Paulo os tanques de guerra não são comuns, na verdade não me lembro de ter visto outro.
- Lucas olha só o que temos aqui.
Lucas olhou.
- O que é isso papai?
- É um tanque de guerra. Veja só, como é grande, é um carro muuuuito forte, que...
Interrupção:
- Para que serve papai?
- Hum... Ele tem este cano comprido em cima, um tipo de canhão, que atira uma bola pesada bem longe. A bola cai sobre prédios, casas e destrói tudo.
Lucas olha para nós imediatamente, expressão de choque no rosto:
- Que horrível!!!
E se vira para o outro lado, vai embora andando na direção oposta sem olhar para trás. Nós adultos nos olhamos, entre perplexos com a lição aprendida e tocados pela humanidade da alma do nosso pequeno.
Não importa a maravilha da engenharia, a tecnologia robusta, a força, a imponência, ele simplesmente reprova a destruição e a dor ligadas a essência deste carro. Na verdade, eu também não aprovo, no meu mundo é doloroso ver gente morrendo por diferenças de pensamentos ou interesses econômicos, mas mesmo assim, até então eu incoerentemente admirava tanques de guerra...